Bem, essa palestra
é a prova de que não importa cor, raça, renda mensal, nada importa, vamos para
o mesmo lugar, seja lá onde for, iremos. Mário Sérgio Cortella trata de um
assunto muito discutido, porém de uma maneira diferente, a falta de humildade e
de humanismo.
“Quando se
pensa e se faz o trabalho como obra poética em vez de sofrimento costumaz,
sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é, aqueles ou aquelas
que se consideram superiores como seres humanos apenas porque têm um emprego
socialmente mais valorizado.
Aliás, é
sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está
falando?”.
Um dia
procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante
pergunta, e, de forma sintética, registrei essa representação em um livro meu
chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de forma mais extensa e
coloquial, aqui vai este relato, partindo do nosso lugar maior, o universo, até
chegar a nós.
Hoje, em
física quântica, não se fala mais um universo, mas em multiverso. A suposição
de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em
multiverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavelmente
o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito
e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se
esvaziando. Até 2002, era quase certo que o nosso universo fosse cilíndrico,
hoje já há alguma suspeita de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi
derrubada em sua totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos
apareceu há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a
hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu
há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o cientista
inglês Fred Hoyle apelidou de gozação de Big Bang, e esse nome pegou.
Qual é a
lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e fosse apertando,
apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o
que tem ali de matéria concentrada e energia retida! Supostamente, nesse
período, todo o universo estava num único ponto adensado, como uma mola
apertada e, então, alguém, alguma força – Deus, não sei, aqui a discussão é de
outra natureza – cortou a cordinha. E aí, essa mola, o nosso universo está em
expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo de
elasticidade e irá encolher outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento
acontecerá em 12 bilhões de anos. Fique tranquilo, até lá você já estará
aposentado pelas novas regras.
Você pode
cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se expandir outra
vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento da vida é expansão e
encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o nosso coração, com sístole e
diástole. Como é o movimento do nosso sexo, que expande e encolhe, seja o
masculino, seja o feminino. Parece que existe uma lógica nisso, que os
orientais, especialmente os chineses e indianos, capturaram em suas religiões,
aquela coisa do inspirar e expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência
tem isso como hipótese.
Assim, há 15
bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração
inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou
formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e elas se juntaram, formando
o que chamamos de galáxias (do grego galaktos, leite). A ciência calcula que
existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de galáxias. Uma delas é
a nossa, a Via Láctea, que é “leite”, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão
grande; calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto,
estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos
universos possíveis e que vai desaparecer.
Nessa nossa
galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de estrela anã, o
Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetárias sem luz
própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica classificação em debate). A
terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O que é a Terra?
A Terra é um
planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de
estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de
galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos
importantes….
Aliás, veja
como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do
universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo isso só para
nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende da relação
custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus fez tudo isso só
para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega, com a cor da pele que
tem, com a escola que frequentou, com o sotaque que usa, com a religião que
pratica.
Nesse
lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta
haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou
por volta de três milhões de espécies. Uma delas é a nossa: homo sapiens. Que é
uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha
que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas
que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos
universos possíveis e que vai desaparecer.
Essa espécie
tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você. Você é
um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras
três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha, que gira em
torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem
uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos
possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que
todas às vezes na vida que alguém me pergunta: “Você sabe com quem está
falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”.”
Hércules Fernandes Moreno
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